Causa Animal


Entrevista com o Deputado Estadual Feliciano Filho
Feliciano Filho - Facebook
Feliciano Filho, economista e vegetariano, de Campinas, São Paulo, diz que já nasceu protetor dos animais. Mas foi em um episódio específico de sua vida em que resolveu se entregar a missão de proteger os animais. Foi assim que nasceu a União Protetora dos Animais (UPA), fundada em 2001 por Feliciano, onde permaneceu à frente até 2009.
Várias pessoas lhe diziam que deveria entrar na política, mas por muito tempo foi resistente, pois os políticos eram as pessoas nas quais ele tinha que enfrentar para proteger os animais. Depois de um tempo se viu “enxugando gelo”, como mesmo diz e para que pudesse abranger os seus planos ativistas, se candidatou vereador em Campinas e mais tarde Deputado Estadual.
Nessa trajetória política aprovou quatro leis importantes, adotadas, mais tarde, por vários outros estados brasileiros. Mesmo perante as barreiras políticas, ele diz que continuará firmemente realizando iniciativas e leis de proteção animal.
Confira abaixo a entrevista completa com o Deputado:
Causa Animal: Como começou a sua dedicação em prol dos animais?
Feliciano Filho: É como eu sempre falo: quem se dedica a proteger os animais, já nasce e morre protetor dos animais. Desde criança eu pegava animais atropelados, abandonados, cuidava deles e colocava para adoção. Sempre quis fazer um trabalho macro, porém não conseguia, pois trabalhava bastante.
No dia 17 de abril de 2001, uma cachorrinha que eu tinha, a Aila, acabou desaparecendo. Comecei a busca por ela, espalhando cartazes, procurando pelas ruas, até que descobri que ela havia pulado o muro do Centro de Controle de Zoonoses de Campinas. Quando entrei lá, vi uma cena terrível: mais de 200 animais, se matando, praticando canibalismo, em meio às fezes. Naquela época, a carrocinha pegava os animais das ruas e os matavam em câmaras de gás ou realizavam experimentos, testes com eles. O meu sentimento era de impotência, quanto a prefeitura.
Nesse mesmo local, vi um homem pegar um cachorro pelo pescoço e arremessá-lo dentro de uma gaiola. O bichinho estava com muito medo, acuado, um olhar de desespero, queria entrar na parede, se assim pudesse. Nesse momento, eu jurei que lutaria em prol da vida e do bem-estar dos animais.
Desde então, resgatei mais de 3 mil animais, realizei mais de 30 mil doações em mais de 3 mil feiras.
Nesse mesmo ano, fundei a União Protetora dos Animais (UPA) e só a deixei, pois não conseguiria dar conta, por conta da vida parlamentar.
Muitas pessoas me falavam que eu deveria entrar para a política, mas eu era resistente, tendo em vista que era contra às ações realizadas pela prefeitura. Mas depois, analisando, vi que estava “enxugando gelo” e decidi, então, a me candidatar como vereador e depois como deputado estadual.
Vários projetos de lei que são de minha autoria e foram aprovadas, se tornaram espelho para outros estados. Hoje a Lei Feliciano, está em 17 estados brasileiros.
CA: Quais foram as maiores dificuldades que você encontrou durante esses anos como ativista?
FF: A maior dificuldade é encontrar pessoas que queiram adotar e para lares provisórios. Os animais precisam de um local para viver, ser amado e cuidado.
CA: Qual é a sua visão sobre a importâncias das ONGs que atuam na causa animal?
FF: As ONGs tem um papel importante nessas questões. Umas das leis aprovadas, Lei da Nota Fiscal Animal, que são a doação da Nota Fiscal Paulista para ONGs de proteção animal, estão ajudando as instituições a viverem desse recurso, com esse rendimento, possibilitando que ela possa abranger mais os seus projetos dentro da ONG.
CA: Com os seus projetos, como está a postura e o olhar do governo estadual e federal com essa questão? As propostas conseguem caminhar ou há resistência?
FF: Para que os projetos de lei sejam aprovados e sancionado pelo o governador precisa que haja uma boa estratégia política, projeto técnico, conversar com as outras bancadas.
A aprovação depende muito da lei. Algumas vezes, certas bancadas não aprovam, pois vão contra os seus interesses. Houve um projeto, que puni quem violenta um animal, que fomos sete vezes para Brasília, mas foi barrada no Senado, por conta da bancada ruralista.
Consegui a aprovação de várias leis na Assembleia, como a da Leishmaniose, outra que obriga fabricantes a informarem, no rótulo, se os produtos foram testados ou têm componente de origem animal. Ambas foram vetadas pelo governador Geraldo Alckmin.
CA: Quanto a população, atualmente você consegue perceber se estão mais conscientes ou ainda está longe da conscientização com a causa animal?
FF: Quando se fala de animais nas ruas, pensa-se que a maioria foi abandonada, mas na verdade, a maior parte, são animais perdidos. No Brasil há mais cães do que crianças. A sua procriação, por exemplo, é de 64 mil cachorros em 6 anos. Uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP), concluiu que em 6 anos, de 2004 à 2010, a população humana cresceu 3%, já a de cães, mais de 60% e a de gatos, 152%.
Por isso, a importância de programas de castração. Em 2012, mandei recursos para Atibaia. Fiz o requerimento para que fosse mandando mais, mas não foi aprovado.
CA: Sobre os seus projetos de lei que foram aprovados, quais foram as principais mudanças que você percebeu após a sua efetivação?
FF: A primeira lei, a Lei Feliciano, proibiu a eliminação dos animais em canis humanitários, a previsão legal de políticas públicas e a base para criar programas de castração pelo governo do estado. Antes os animais eram mortos a pauladas, câmaras de gás, os colocavam em caixas d’água e enchiam, fazendo com que morressem afogado. Hoje isso não existe mais.
Há 10 anos atrás, se você perguntasse para um prefeito, governador, o que eles faziam com os animais da carrocinha, eles responderiam “eu os mato”, hoje isso é impensável. Atualmente há o desenvolvimento do programa de castração, são retirados das ruas.
A lei que proíbe o teste com os animais, como também a proibição da retirada da pele do chinchila, estão funcionando no Estado (São Paulo).
As leis estão trabalhando, surtindo efeito.
CA: O que precisa ser mudado ou incluído urgentemente nas leis no Estado ou prefeituras?
FF: Ainda há pouca prioridade na questão ativista. Não é só uma questão humanitária e sim de saúde pública, ambiental. Se não é implementada, a castração, por exemplo, são US$9,00 para concertar depois.
Uma outra questão, é que quando se fala de animais pensa-se que é sobre cães e gatos, tráfico de animais silvestres, uso de animais em rodeio, circo e isso não representa nem 5%. A questão dos animais em abatedouros, frigoríficos, representam 95%. O abatimento é cruel. Recomendo que assistam um vídeo de abatimento do começo ao fim. Duvido que consigam comer carne de novo. É muito sofrimento.
CA: Gostaria de fazer algum comentário?
FF: O comentário que eu gostaria de fazer é sobre a questão espiritual. As pessoas estão materialistas. Vão comprar carne, como se fossem comprar fruta. Tirar a vida de um animal, na minha opinião, é um pecado.
Tornar-se vegetariano é uma questão de saúde pública e ambiental, não só humanitário. A crise hídrica, também tem a ver com a criação de gado. O desmatamento que é feito para criá-los contribui e muito, além de enriquecer grupos específicos. Hoje temos mais de 300 milhões de cabeça de gado, um número maior do que a população brasileira.
